A passagem de uma onda de calor fez subir as temperaturas no Rio Grande do Sul nos últimos dias. E a previsão para os dias seguintes, incluindo os que antecedem o feriado de Carnaval, indica que o calor e o tempo seco continuarão com ainda mais intensidade, variando entre 35°C e 40°C em certas cidades. E Pelotas entra nessa lista. De acordo com a Metsul Meteorologia, a previsão atual mostra que as temperaturas na cidade podem atingir 38°C no próximo domingo e 40ºC na segunda-feira.

O prognóstico de aquecimento no Estado preocupa principalmente os vendedores de rua de Pelotas. Praticamente acostumado com o calor do Calçadão, onde comercializa discos de vinil, o ambulante Enzo Corrêa diz que um desafio para os dias quentes é manter a hidratação. "Necessariamente, a gente tem que pegar mais água. Se não pegarmos água, passamos uma certa dificuldade", afirma. Além disso, segundo Enzo, o calor excessivo espanta as pessoas da rua, já que elas tendem a se proteger mais das altas temperaturas, seja em casa ou, inclusive, dentro de grandes lojas que tem ambiente climatizado.

O vendedor conta que, para escapar do sol, as pessoas buscam alternativas variadas na esperança de amenizar o calorão, principalmente na volta do meio dia. "Passam pelas frestas aqui, para onde tem a sombra, não caminham no meio. Já vi gente desmaiando", revelou. Próximo do Chafariz das Três Meninas, uma lojista que preferiu o anonimato, desfrutava do horário de pausa do serviço, e corroborou com o relato sobre os desmaios causados pelo calor. "É bem frequente. Chega a ter em torno de três pessoas por semana desmaiando. E chamam o Samu para socorrer. Esses dias pegaram um morador de rua e até levaram, por causa do calor", apontou a mulher.

Os dois trabalhadores contam que vêem muitos pelotenses que, para fugir do calor, aproveitam o ar condicionado das grandes lojas no Calçadão e acabam entrando nelas apenas para se refrescar brevemente. Nesse contexto, Corrêa critica a escassa arborização dessa parte da cidade, já que o concreto potencializa o aquecimento natural. "Cidades têm menos árvores e mais superfícies onde conseguem concentrar o calor. Os ares-condicionados deixam o ambiente interno frio, mas para fora liberam calor. [...] O que resolveria o problema de calor nos lugares é ter grama. A grama pode dissipar esse calor, e não ficaria esse bafo", sugeriu.

Alívio ao calor intenso

Em dias quentes, o consumo de sorvete e açaí tende a aumentar, justamente por serem boas opções para enfrentar o desconforto gerado pelo calor demasiado, além de serem saborosos. Controlando a balança no buffet de uma gelateria, o trabalhador Rogério Nogueira, 57 anos, trabalha há quase três décadas no mesmo local e conta que as vendas aumentam até 80% em dias quentes. "Sai mais o sorvete. Recém está começando o açaí, mas está saindo bem também", apontou. No entanto, ao contrário do que se pode imaginar, dias de calor extremo, como os que são esperados pela frente, podem não ser um indicativo fiel de crescimento nas vendas. "Calor demais, o pessoal já não sai muito para a rua, fica em casa. Quando está mais ou menos o pessoal circula mais", pontua.

Assim foi feito por Enilza da Costa, 52 anos, que enquanto descansava na sombra da sorveteria após a caminhada feita no sol, decidiu saborear um sorvete no local. "Um sorvetinho ajuda a refrescar. Está muito calor", disse. Além disso, declara que não abdica da água para hidratação, sendo um hábito importante que mantém independentemente do clima que faz. "Tomo bastante água sempre", completou.

Massa de ar quente

De acordo com a meteorologista Camila Cardoso, o calor acentuado que se estabeleceu no Estado é ocasionado por uma intensa massa de ar quente, a qual deve permanecer influenciando as condições de tempo nos próximos dias, em especial na segunda metade da semana e no final de semana que antecede o Carnaval. Nesses dias, segundo a especialista, as temperaturas devem superar os 35°C em muitos municípios gaúchos, podendo se aproximar dos 40°C na fronteira oeste. No entanto, os índices climáticos não têm ligação com a diminuição do fenômeno El Niño.

"Ondas de calor fazem parte da climatologia do verão do sul do Brasil, e não necessariamente estão associadas ao enfraquecimento do El Niño. É importante destacar que a previsão indica o enfraquecimento rápido do El Niño em direção aos meses de outono e inverno, porém ainda estamos sob vigência do fenômeno que segue com anomalias positivas de temperatura da superfície do mar na região do Niño 3.4", explicou.

Ainda conforme Camila, a previsão para o restante do verão admite um aumento de chuvas. "O mês de fevereiro está começando com baixos totais de chuva no RS, porém entre o final da primeira quinzena e na segunda quinzena as chuvas voltam a ficar mais frequentes, e devido ao calor, temporais são esperados, resultando em chuvas irregulares no Estado".